A revolução do hidrogênio no Brasil: Primeira estação a etanol entra em operação na USP

Com 100 kg de produção diária, a estação de hidrogênio a etanol na USP busca reduzir custos logísticos e impulsionar a descarbonização. O projeto, de R$ 50 milhões, testa a viabilidade do combustível para transporte e indústria. Fruto de um consórcio, é a primeira do tipo no Brasil.
Publicado por Alan Correa em Tecnologia dia 22/02/2025

A produção de hidrogênio a partir do etanol avança no Brasil com a inauguração da primeira estação do tipo na Cidade Universitária da USP, em São Paulo. O projeto, iniciado em 2023, é fruto de uma parceria entre empresas privadas e instituições acadêmicas e recebeu investimentos de R$ 50 milhões. Seu objetivo é testar a viabilidade do hidrogênio como alternativa energética para o transporte e para setores industriais de alta emissão.

Com capacidade para produzir 100 kg de hidrogênio por dia, a planta-piloto abastecerá três ônibus da EMTU e dois veículos leves – um Toyota Mirai e um Hyundai Nexo. A iniciativa busca medir a eficiência da conversão do etanol em hidrogênio, bem como o consumo e o desempenho dos veículos movidos a célula de combustível. Os resultados devem orientar futuras aplicações dessa tecnologia em escala comercial.

O Brasil dispõe de vantagens estratégicas para a adoção desse modelo energético. A infraestrutura consolidada para o etanol e a abundância de matéria-prima conferem ao país um potencial significativo na produção de hidrogênio renovável. Além da mobilidade, setores industriais como siderurgia, cimento e petroquímica podem se beneficiar dessa tecnologia.

O consórcio por trás da iniciativa

A estação de hidrogênio a etanol na USP inicia operações com produção de 100 kg diários. O projeto visa testar a viabilidade do combustível e reduzir custos logísticos para transporte e indústria.
A estação de hidrogênio a etanol na USP inicia operações com produção de 100 kg diários. O projeto visa testar a viabilidade do combustível e reduzir custos logísticos para transporte e indústria.

A estação experimental é resultado da colaboração entre diversas empresas e instituições, incluindo Shell Brasil, Raízen, Hytron, SENAI CETIQT, Toyota, Hyundai, Marcopolo e EMTU. O projeto é liderado pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da USP, responsável pela condução dos estudos técnicos.

O objetivo do consórcio é validar o hidrogênio obtido a partir do etanol como alternativa viável para transporte e indústria. Os testes avaliarão a taxa de conversão do etanol, a eficiência energética dos veículos e os impactos ambientais do processo. A pesquisa pode fundamentar decisões sobre a ampliação da tecnologia em larga escala.

A experiência brasileira com biocombustíveis contribui para o desenvolvimento dessa tecnologia. A ampla rede de produção e distribuição de etanol pode facilitar a expansão da infraestrutura para o hidrogênio, reduzindo custos logísticos e permitindo a descentralização da produção.

Como funciona a estação

Com investimento de R$ 50 milhões, a iniciativa envolve empresas e instituições em busca de soluções energéticas sustentáveis. O hidrogênio pode impulsionar a descarbonização de diversos setores.
Com investimento de R$ 50 milhões, a iniciativa envolve empresas e instituições em busca de soluções energéticas sustentáveis. O hidrogênio pode impulsionar a descarbonização de diversos setores.

A geração do hidrogênio ocorre por meio da reforma a vapor do etanol. Nesse processo, o combustível derivado da cana-de-açúcar reage com a água sob altas temperaturas, resultando na liberação de hidrogênio e CO₂. A principal vantagem desse método está na possibilidade de compensação das emissões de carbono pelo cultivo da cana, tornando-o potencialmente neutro em carbono.

O projeto busca solucionar um dos principais desafios da adoção do hidrogênio: seu armazenamento e transporte. Como esses fatores elevam os custos da tecnologia, a proposta é converter o etanol em hidrogênio diretamente no ponto de consumo. Essa abordagem elimina a necessidade de transporte do hidrogênio, permitindo que as estações operem como postos de abastecimento autônomos.

A usina-piloto instalada na USP será monitorada para avaliar sua eficiência e possíveis gargalos operacionais. Se bem-sucedida, a tecnologia pode ser replicada em outros centros urbanos e setores industriais, expandindo sua adoção no país.

Testes e aplicações

O primeiro ciclo de testes será conduzido com três ônibus da EMTU e dois automóveis movidos a célula de combustível. O desempenho dos veículos será monitorado para verificar sua eficiência energética e autonomia, além da adequação do hidrogênio produzido para abastecimento contínuo.

O envolvimento da Toyota e da Hyundai no projeto reflete o interesse das montadoras na ampliação do mercado de veículos a hidrogênio. Embora ainda sejam uma fração pequena do setor automotivo global, os veículos movidos a células de combustível podem ganhar espaço à medida que a infraestrutura para hidrogênio se expanda.

A pesquisa conduzida na USP deve fornecer dados cruciais para o desenvolvimento de novas estratégias para mobilidade sustentável. Além do setor automotivo, fabricantes de aeronaves, caminhões e equipamentos industriais podem se beneficiar do avanço da tecnologia no Brasil.

Impactos na indústria e na economia

A ampliação da produção de hidrogênio renovável pode ter implicações significativas para a economia brasileira. O país já é um dos principais produtores mundiais de etanol, e a conversão desse combustível em hidrogênio pode criar novas oportunidades para exportação e industrialização.

A adoção dessa tecnologia pode acelerar a descarbonização da indústria em setores de alta emissão, como siderurgia e cimento. O acesso a hidrogênio em grande escala também pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis em setores estratégicos da economia.

O governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, destacou a relevância da pesquisa científica para a transição energética do Brasil. A infraestrutura já existente para o etanol, aliada à capacidade de inovação do país, coloca o Brasil em posição privilegiada para liderar o desenvolvimento do hidrogênio renovável.

Perspectivas e desafios

Embora a tecnologia tenha potencial para transformar o setor energético, desafios permanecem. A viabilidade econômica do hidrogênio a partir do etanol dependerá da competitividade em relação a outras fontes de energia renovável, como a eletricidade e o hidrogênio verde produzido por eletrólise.

A expansão da infraestrutura exigirá investimentos adicionais e marcos regulatórios que incentivem a adoção da tecnologia. Políticas públicas voltadas para mobilidade sustentável e descarbonização da indústria podem acelerar a transição para esse novo modelo energético.

O projeto da USP representa um passo inicial na consolidação do hidrogênio como alternativa energética no Brasil. Se bem-sucedido, pode abrir caminho para novas aplicações, transformando a matriz energética e posicionando o país como referência global na produção de hidrogênio renovável.

Fonte: Carro.Blog.Br, Governo-SP, JornalDaUSP, iG e Bpmoney.