A Scania anunciou seu primeiro cavalo mecânico elétrico para o mercado brasileiro, o 30 G 4×2, que será apresentado oficialmente durante a Fenatran 2024, em São Paulo. O modelo chega ao país como uma solução de transporte sustentável, em um momento em que a descarbonização do transporte rodoviário é uma prioridade global.
Equipado com motor elétrico e baterias de lítio, o Scania 30 G promete oferecer uma alternativa limpa e eficiente para o transporte de cargas em rotas urbanas e regionais, com uma autonomia de 250 a 300 quilômetros.
Embora o modelo tenha um preço elevado, estimado em R$ 2,5 milhões, ele é parte da estratégia global da Scania para liderar a transição para transportes mais limpos, uma demanda cada vez mais presente em grandes empresas comprometidas com metas de redução de CO2. A introdução desse modelo no Brasil não deve, no entanto, gerar uma corrida imediata às concessionárias. A expectativa da empresa é iniciar as vendas de maneira gradual, com as primeiras entregas programadas para 2026.
A grande questão para o setor é: o transporte elétrico será viável no Brasil nos próximos anos? Essa nova tecnologia terá capacidade de atender às demandas logísticas de um país com distâncias tão amplas e infraestrutura limitada? Para além do entusiasmo com o lançamento, a realidade do mercado apresenta desafios que serão determinantes para o sucesso do 30 G no Brasil.
A Scania trouxe ao Brasil o 30 G, seu primeiro cavalo mecânico elétrico, importado da Suécia. Este modelo faz parte da terceira geração de caminhões elétricos da marca, integrando a linha sustentável que também inclui opções movidas a gás natural e biodiesel. Com um motor elétrico de 410 cavalos e dois pacotes de baterias de 416 kWh, o 30 G oferece autonomia de até 300 quilômetros, dependendo do peso transportado e das condições de trajeto.
Segundo Alex Nucci, diretor de vendas da Scania, o 30 G foi pensado para rotas curtas, ligando fábricas a centros de distribuição em áreas urbanas ou regionais, de modo a atender a um perfil específico de clientes, como grandes embarcadores que buscam reduzir suas emissões de CO2. No entanto, essa autonomia ainda é limitada para operações de longas distâncias, comuns no transporte rodoviário brasileiro, o que coloca o modelo como uma opção nichada neste primeiro momento. As baterias do 30 G são do tipo NMC (lítio-níquel-manganês-cobalto), conhecidas por sua alta densidade energética, o que reduz o peso total do veículo e aumenta a capacidade de carga. O tempo de recarga é de aproximadamente 50 minutos, utilizando carregadores de 375 kW, uma vantagem em termos de produtividade para frotistas que podem aproveitar intervalos nas operações, como o horário de almoço dos motoristas.
A introdução do Scania 30 G no Brasil faz parte de uma estratégia global da montadora, que visa liderar a transição para veículos de transporte mais sustentáveis. O lançamento, contudo, levanta uma série de questões sobre a viabilidade do transporte elétrico em um país como o Brasil. A infraestrutura de recarga é um dos principais obstáculos. Embora existam iniciativas de empresas que buscam utilizar fontes de energia renovável, como energia solar, para abastecer suas frotas, a rede de recarga pública é praticamente inexistente para caminhões elétricos.
Além disso, o alto custo inicial de aquisição — cerca de R$ 2,5 milhões, mais que o dobro de um cavalo mecânico a diesel — também impõe um desafio. No entanto, a Scania aposta em uma visão de longo prazo, em que o custo total de propriedade possa ser reduzido pela menor necessidade de manutenção e pelas economias com combustível. As baterias têm garantia de 1,2 milhão de quilômetros, o que representa cerca de 12 anos de uso para frotas que rodam em média 100 mil quilômetros por ano.
Outro ponto relevante é o impacto ambiental. A operação dos caminhões elétricos elimina a emissão de CO2, um passo significativo para as empresas que se comprometem com a redução de emissões. No entanto, a produção e descarte das baterias de lítio ainda são questões que precisam ser consideradas no cálculo do impacto ambiental total do ciclo de vida desses veículos.
Para enfrentar os desafios do transporte elétrico no Brasil, algumas empresas estão se preparando com infraestrutura própria de geração de energia. Frotistas que operam em regiões específicas, com rotas previsíveis e curtas, podem se beneficiar da instalação de pontos de recarga em seus hubs logísticos, o que também pode acelerar a adoção de veículos elétricos. Grandes embarcadores, como indústrias com metas de redução de CO2, estão entre os potenciais clientes do Scania 30 G, segundo a empresa.
Além disso, iniciativas governamentais que incentivam a transição para transportes mais limpos podem desempenhar um papel crucial. Programas de financiamento e subsídios para a compra de veículos elétricos ou a instalação de infraestrutura de recarga seriam passos importantes para tornar o modelo mais acessível a um público mais amplo.
Por outro lado, o Brasil ainda depende fortemente de caminhões movidos a diesel para o transporte de cargas em longas distâncias, e a transição para uma frota elétrica será gradual. Para rotas de até 300 quilômetros, no entanto, o 30 G se posiciona como uma solução promissora para reduzir as emissões de gases poluentes e custos operacionais a longo prazo.
O Scania 30 G representa um avanço significativo na busca por um transporte rodoviário mais sustentável no Brasil, mas sua adoção será gradual e focada em nichos específicos. A infraestrutura limitada e o alto custo inicial são os principais desafios para a popularização do modelo no país. No entanto, empresas comprometidas com a redução de emissões podem ver no 30 G uma solução viável para operações urbanas e regionais, especialmente à medida que a infraestrutura de recarga se desenvolva.
A pergunta central — o transporte elétrico é viável no Brasil? — ainda não tem uma resposta definitiva. O 30 G dá um importante primeiro passo, mas o sucesso dessa transição dependerá de uma combinação de inovação, políticas públicas e investimentos em infraestrutura.
Fonte: NoticiasAutomotivas, InsideEvs, Autodata e Estadão.