Sabesp: conheça o Sistema Cantareira, Alto Cotia, Rio Claro e Fazenda Capivari

Inseridas no ambiente da Mata Atlântica, as quatro propriedades da Sabesp apresentadas nesta lista retratam a preocupação ambiental da empresa.
Publicado por Alan Correa em Cidades dia 8/02/2023

A Região Metropolitana de São Paulo é conhecida por seus números impressionantes e complexas relações entre as pessoas e o território. A infraestrutura da metrópole desempenha um papel importante na qualidade de vida dos moradores e visitantes, incluindo a água, que é essencial para a sobrevivência.

Com mais de 21 milhões de habitantes, São Paulo é uma das dez regiões mais populosas do mundo, e fornecer água de qualidade requer muito mais do que apenas operações técnicas de captação, monitoramento, tratamento e distribuição.

A Represa Cachoeira é vista do ar como o terceiro maior reservatório do Sistema Cantareira, cobrindo 870 hectares de terra livre de urbanização, com florestas nativas e áreas protegidas de conservação, localizada no município de Piracaia (Foto: SABESP)
A Represa Cachoeira é vista do ar como o terceiro maior reservatório do Sistema Cantareira, cobrindo 870 hectares de terra livre de urbanização, com florestas nativas e áreas protegidas de conservação, localizada no município de Piracaia (Foto: SABESP)

A Sabesp, uma empresa de saneamento básico criada no início da década de 1970, entende que sua missão é fornecer serviços de água de qualidade, considerando tanto os clientes quanto o meio ambiente. Para isso, atua de maneira sustentável em diversas frentes, especialmente em suas áreas patrimoniais.

O pioneiro sistema e a quebra de paradigma

A marcação amarela destaca como as propriedades da Sabesp resistem ao crescimento urbano. Na imagem de satélite, é possível ver que o Sistema Alto Cotia é cercado pelo desenvolvimento urbano, incluindo municípios como Itapecerica da Serra, Vargem Grande Paulista, Embu, e Cotia. Já a imagem ao lado mostra que o Sistema Rio Claro está protegido devido à sua localização dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, o que garante uma maior preservação ao seu redor.
A marcação amarela destaca como as propriedades da Sabesp resistem ao crescimento urbano. Na imagem de satélite, é possível ver que o Sistema Alto Cotia é cercado pelo desenvolvimento urbano, incluindo municípios como Itapecerica da Serra, Vargem Grande Paulista, Embu, e Cotia. Já a imagem ao lado mostra que o Sistema Rio Claro está protegido devido à sua localização dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, o que garante uma maior preservação ao seu redor (Foto: SABESP)

No final do século 19, com o aumento da população em São Paulo, a situação precária de saneamento tendia a piorar. Duas abordagens foram debatidas na busca por soluções. Enquanto alguns defendiam a captação tradicional de água em serras com ocupação limitada e proteção da água, outros acreditavam que se poderia obter água de mananciais próximos às cidades, desde que submetida a tratamento químico.

O Sistema Cantareira, um dos primeiros a ser criado, foi concebido com a ideia de captar água pura. Suas atividades começaram no século 19 na Serra Cantareira. Depois, o Sistema Alto Cotia foi construído, com grandes desapropriações para preservar o manancial existente. O Sistema Rio Claro foi construído na Serra do Mar. A escolha desses locais foi baseada nas disponibilidades territoriais e no alto crescimento demográfico da região. A Represa Guarapiranga, gerida pela Light, também abastece a cidade, mas esta não é objeto deste relatório, apenas a Fazenda Capivari, que pertence à Sabesp.

Desde a década de 1970, houve um aumento de preocupação com a quantidade e qualidade da água, o que resultou em investimentos em conservação e preservação das áreas em torno dos reservatórios. Em novembro de 1976, foi aprovada a lei estadual de proteção dos mananciais. Atividades como reflorestamento e controle do uso do solo nas áreas circundantes são importantes para manter a qualidade da água. A Sabesp considera sua responsabilidade fundamental na preservação e recuperação dessas áreas.

Natureza rica em nascentes

Em 1893, a Represa do Toucinho foi registrada. Ela captava água na Serra da Cantareira e fazia parte do Sistema Cantareira Velho, tendo capacidade para suprir 60 mil pessoas. No entanto, em 1900, a população da capital já era de aproximadamente 240 mil (Foto Sabesp).
Em 1893, a Represa do Toucinho foi registrada. Ela captava água na Serra da Cantareira e fazia parte do Sistema Cantareira Velho, tendo capacidade para suprir 60 mil pessoas. No entanto, em 1900, a população da capital já era de aproximadamente 240 mil (Foto Sabesp).

Antes da formação da região metropolitana, imediações da Serra da Cantareira eram ocupadas por sítios e fazendas, onde existiam muitas nascentes de água pura armazenada e transportada em cântaros. Com a urbanização crescente, os problemas de abastecimento de água começaram a aparecer, tornando necessário estruturar um sistema de abastecimento para São Paulo.

A Estação Elevatória do Engordador, concebida por ingleses, foi uma das primeiras instalações desse tipo na região e funcionou no início do século 20 como parte da infraestrutura do Cantareira Velho. A foto mais antiga data de 1901.
A Estação Elevatória do Engordador, concebida por ingleses, foi uma das primeiras instalações desse tipo na região e funcionou no início do século 20 como parte da infraestrutura do Cantareira Velho. A foto mais antiga data de 1901 (Foto: SABESP)

A partir de 1890, vários terrenos na zona norte foram desapropriados para proteger as fontes de água e garantir sua captação e distribuição à população. Em 1963, a área foi proclamada Parque Estadual da Serra da Cantareira, com cerca de 8 mil hectares, e passou a fornecer água a bairros da cidade por meio de adutoras.

A necessidade de atender à crescente demanda por água levou à construção de novas tubulações a cada dois ou três anos. Reservatórios, represas e a futura estação de tratamento compuseram o Sistema Cantareira.

A foto antiga de 1893 mostra a Represa Garahu (antiga grafia de Guaraú), enquanto funcionava o Sistema Cantareira Velho. Em 1966, a ETA Guaraú foi construída no mesmo local e é responsável por tratar a água do atual Sistema Cantareira. A foto abaixo mostra a ETA Guaraú.
A foto antiga de 1893 mostra a Represa Garahu (antiga grafia de Guaraú), enquanto funcionava o Sistema Cantareira Velho. Em 1966, a ETA Guaraú foi construída no mesmo local e é responsável por tratar a água do atual Sistema Cantareira. A foto abaixo mostra a ETA Guaraú (Foto: SABESP)

O Cantareira Velho funcionou até meados da década de 1970, quando ocorreu uma rápida expansão demográfica na região de São Paulo. A população saltou de 4,85 milhões em 1960 para 8,07 milhões em 1970. Na década seguinte, foram inauguradas as primeiras barragens e reservatórios do atual Sistema Cantareira, gerido pela Sabesp. Hoje, o sistema atende a uma região que inclui cidades como Bragança Paulista, Piracaia, Vargem, Joanópolis, Nazaré Paulista, Franco da Rocha, Mairiporã, Caieiras e São Paulo.

O Sistema Cantareira, localizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA), é uma das maiores instalações produtoras de água do mundo. Com uma área total de 17,17 mil hectares, é dez vezes maior que a APA de Fernando de Noronha. Composto por represas e barragens como Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras, bem como as estações elevatórias de água bruta (EEAB) Santa Inês e a estação de tratamento de água (ETA) Guaraú, o sistema produz 48,7% da água tratada pela Sabesp e atende a mais de 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana.

Represa Paiva Castro

Represa Paiva Castro, situada em Franco da Rocha e Mairiporã
Represa Paiva Castro, situada em Franco da Rocha e Mairiporã (Foto: SABESP)

A Represa Paiva Castro, situada em Franco da Rocha e Mairiporã, foi construída como parte do Sistema Cantareira. Levou 7 anos para ser concluída, de 1966 a 1973. Ela controla o nível do Rio Juqueri e encaminha a água para a Estação Elevatória de Água Bruta (EEAB) Santa Inês e posteriormente para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú.

Represas Jaguari e Jacareí

As Represas Jaguari e Jacareí
As Represas Jaguari e Jacareí (Foto: SABESP)

As Represas Jaguari e Jacareí começaram a operar em 1982, completando o Sistema Cantareira e dando origem a seu maior reservatório (correspondente a mais de 80% do volume total de água).

Além da Cantareira Velho

A Estação de Tratamento de Água Alto Cotia, localizada na reserva Morro Grande, já estava em funcionamento em 1917, mas passou por reformas até 1937, quando foram concluídas as obras dos decantadores que realizam o tratamento convencional da água.
A Estação de Tratamento de Água Alto Cotia, localizada na reserva Morro Grande, já estava em funcionamento em 1917, mas passou por reformas até 1937, quando foram concluídas as obras dos decantadores que realizam o tratamento convencional da água (Foto: SABESP)

No início do século XX, o rápido crescimento de São Paulo tornou claro que o sistema Cantareira Velho era insuficiente para abastecer todos os bairros. O Rio Tietê foi considerado como alternativa, mas foi descartado devido aos riscos para a saúde pública. Então, os rios Claro e Cotia se tornaram as opções mais viáveis, com o último sendo o mais próximo da cidade e com menor custo de implantação de um novo sistema de abastecimento de água.

As cabeceiras do Rio Cotia foram tomadas pelo governo do estado e se tornaram a Reserva Florestal do Morro Grande. O Sistema Alto Cotia atua nesta área altamente protegida de 11,1 mil hectares, equivalente a um terço da área atual de Belo Horizonte. Executado em duas etapas, sua infraestrutura inclui a Barragem da Graça, que represou a Cachoeira da Graça em 1916 e serve apenas para captar a água da bacia hidrográfica. Em um segundo momento, em 1937, o Reservatório Pedro Beicht, com características reguladoras, passou a operar para manter o abastecimento de água nos períodos de estiagem.

Rodeada por vegetação nativa, a Represa da Cachoeira da Graça é uma parte importante do Sistema Alto Cotia. De lá sai a água bruta que é tratada para fornecer água potável para as cidades de Cotia, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu e Vargem Grande Paulista.
Rodeada por vegetação nativa, a Represa da Cachoeira da Graça é uma parte importante do Sistema Alto Cotia. De lá sai a água bruta que é tratada para fornecer água potável para as cidades de Cotia, Itapecerica da Serra, Embu, Embu-Guaçu e Vargem Grande Paulista (Foto: SABESP)
Antes da criação da reserva florestal, a região do Morro Grande era dominada por fazendas. A maior delas pertencia a Pedro Beicht, cujo nome foi escolhido para batizar o principal reservatório do Alto Cotia.
Antes da criação da reserva florestal, a região do Morro Grande era dominada por fazendas. A maior delas pertencia a Pedro Beicht, cujo nome foi escolhido para batizar o principal reservatório do Alto Cotia (Foto: SABESP)
A captação de água e a barragem na Represa Cachoeira da Graça são quase invisíveis, tão bem integrados ao cenário natural. O volume do Reservatório Pedro Beicht é muito maior do que o da Represa Cachoeira da Graça.
A captação de água e a barragem na Represa Cachoeira da Graça são quase invisíveis, tão bem integrados ao cenário natural. O volume do Reservatório Pedro Beicht é muito maior do que o da Represa Cachoeira da Graça (Foto: SABESP)

Biodiversidade

Para levar a água até o seu destino, foram construídos aquedutos com dezenas de quilômetros de comprimento. Eles atravessam a propriedade da Sabesp, onde funciona o Sistema Rio Claro, localizado em Salesópolis e Biritiba-Mirim. A fotografia antiga, datada de 1936, mostra a construção da adutora superior (Foto: SABESP)
Para levar a água até o seu destino, foram construídos aquedutos com dezenas de quilômetros de comprimento. Eles atravessam a propriedade da Sabesp, onde funciona o Sistema Rio Claro, localizado em Salesópolis e Biritiba-Mirim. A fotografia antiga, datada de 1936, mostra a construção da adutora superior (Foto: SABESP)

O que o Sistema Rio Claro, situado no Parque Estadual da Serra do Mar na região metropolitana de São Paulo, tem em comum com o livro clássico “Os Sertões”, escrito por Euclides da Cunha? Há muitas histórias envolvendo o escritor e a região, mas a mais interessante é a que atribui a ele a sugestão de que o manancial protegido pela Mata Atlântica poderia ajudar o Cantareira a abastecer São Paulo. Euclides era não só escritor e jornalista, mas também engenheiro civil e trabalhou no final do século 19 como funcionário do Serviço de Obras Públicas do Estado de São Paulo. Diz-se que ele identificou o potencial do Rio Claro como fonte de abastecimento ao medir sua vazão em 1906.

Hoje, o Sistema Rio Claro ocupa uma área de 16 mil hectares da Sabesp, o que é equivalente a região oeste da capital, incluindo as prefeituras regionais de Butantã, Lapa e Pinheiros. No entanto, ao contrário desta área urbana, que abriga mais de um milhão de pessoas, o Rio Claro é habitat de milhares de espécies, incluindo algumas raras, da flora, fauna e fungos típicos da Mata Atlântica. O terreno é cortado por rios e córregos de água pura, com vista para o litoral norte paulista.

O Sistema Rio Claro teve suas obras iniciadas em 1926, mas enfrentou interrupções e reformulações no projeto ao longo do tempo. Demorou 15 anos para ser concluído devido às dificuldades na construção, que envolveu uma distância de mais de 70 km de São Paulo. A água é captada na Represa Ribeirão do Campo e depois tratada na Estação de Tratamento de Água (ETA) Casa Grande.

O Sistema Rio Claro é responsável por fornecer água para alguns bairros da zona leste da capital e algumas cidades vizinhas, como Mauá, Santo André e Ribeirão Pires. Na década de 1970, sua capacidade foi duplicada para atender a uma demanda crescente. Com uma capacidade de produção de aproximadamente 4 mil litros por segundo, ele é capaz de fornecer água para o consumo de uma pessoa por 31 dias em apenas um segundo.

A natureza faz parte

Algumas áreas da propriedade do Sistema Rio Claro mantêm a beleza exuberante da floresta, então há restrições para qualquer tipo de construção. Apenas o mínimo de interferência foi realizado, como a construção da barragem na Represa Ribeirão do Campo.
Algumas áreas da propriedade do Sistema Rio Claro mantêm a beleza exuberante da floresta, então há restrições para qualquer tipo de construção. Apenas o mínimo de interferência foi realizado, como a construção da barragem na Represa Ribeirão do Campo (Foto: SABESP)

A Fazenda Capivari, propriedade da Sabesp, também está situada na floresta da Mata Atlântica. Com uma área de apenas 262 hectares, é uma propriedade menor em comparação a outros terrenos da empresa.

Ela está localizada em uma área de proteção ambiental com o mesmo nome, na região sul de São Paulo, perto do bairro de Engenheiro Marsilac. Com suas quedas-d’água cristalinas, a área se mostrou ser uma boa opção para complementar o abastecimento feito pelo Sistema Guarapiranga.

Ao longo do Rio Capivari-Monos, há várias surpresas a serem descobertas, como formações rochosas modeladas pela água e praias que surgem nas partes calmas do rio, que parecem mais como lagoas. Não é incomum ver moradores das proximidades aproveitando este paraíso natural.
Ao longo do Rio Capivari-Monos, há várias surpresas a serem descobertas, como formações rochosas modeladas pela água e praias que surgem nas partes calmas do rio, que parecem mais como lagoas. Não é incomum ver moradores das proximidades aproveitando este paraíso natural (Foto: SABESP)

Inicialmente, havia a intenção de construir uma infraestrutura para captação e represamento na Fazenda Capivari. No entanto, devido a questões ambientais, as duas barragens planejadas nunca foram construídas.

Ao longo do Rio Capivari-Monos, o percurso apresenta algumas surpresas
Ao longo do Rio Capivari-Monos, o percurso apresenta algumas surpresas (Foto: SABESP)

No meio do século 20, a Estação Elevatória Capivari começou a operar com a finalidade de gerar energia elétrica. Mas, durante uma crise de seca na década de 1970, a elevatória foi usada para ajudar no abastecimento da cidade de São Paulo. Ela bomba a água do Rio Capivari-Monos para o Reservatório Guarapiranga, onde a água é tratada.

Quatro propriedades da Sabesp

Inseridas no ambiente da Mata Atlântica, as quatro propriedades da Sabesp apresentadas nesta lista retratam a preocupação ambiental da empresa.

Os sistemas Cantareira, Rio Claro, Alto Cotia e Fazenda Capivari, responsáveis pelo forneci - mento a quase 9,5 milhões de pessoas
Os sistemas Cantareira, Rio Claro, Alto Cotia e Fazenda Capivari, responsáveis pelo forneci – mento a quase 9,5 milhões de pessoas

Sistema Alto Cotia

O Sistema Alto Cotia é uma instalação que se encontra dentro da Reserva Florestal Morro Grande. Possui duas represas, a Pedro Beicht e a Cachoeira da Graça. A área total abrangida pelo sistema incluindo seus mananciais é de 11,1 mil hectares. Em 2017, o índice de cobertura vegetal nessa área era de 100%.

Fazenda Capivari

A Fazenda Capivari, que faz parte do Sistema Guarapiranga, encontra-se inserida na Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos. A propriedade possui uma área total de 262 hectares, incluindo os mananciais, e apresenta uma cobertura vegetal de 100% segundo o índice de 2017. A fazenda conta com uma represa chamada Capivari.

Sistema Cantareira

O Sistema Cantareira está localizado dentro de Áreas de Proteção Ambiental (APA) Cantareira e Parques Estaduais Itapetinga, Itaberaba, Juqueri e Cantareira. Ele conta com seis represas: Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras. A área total incluindo mananciais é de 17,17 mil hectares e o índice de cobertura vegetal, em 2017, foi de 75%.

O Sistema Rio Claro está localizado dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, com uma área total de 16 mil hectares, incluindo mananciais. Em 2017, o índice de cobertura vegetal era de 100%. A única obra realizada na área foi a construção da represa Ribeirão do Campo.

*Com informações da Sabesp.