A Região Metropolitana de São Paulo é conhecida por seus números impressionantes e complexas relações entre as pessoas e o território. A infraestrutura da metrópole desempenha um papel importante na qualidade de vida dos moradores e visitantes, incluindo a água, que é essencial para a sobrevivência.
Com mais de 21 milhões de habitantes, São Paulo é uma das dez regiões mais populosas do mundo, e fornecer água de qualidade requer muito mais do que apenas operações técnicas de captação, monitoramento, tratamento e distribuição.
A Sabesp, uma empresa de saneamento básico criada no início da década de 1970, entende que sua missão é fornecer serviços de água de qualidade, considerando tanto os clientes quanto o meio ambiente. Para isso, atua de maneira sustentável em diversas frentes, especialmente em suas áreas patrimoniais.
No final do século 19, com o aumento da população em São Paulo, a situação precária de saneamento tendia a piorar. Duas abordagens foram debatidas na busca por soluções. Enquanto alguns defendiam a captação tradicional de água em serras com ocupação limitada e proteção da água, outros acreditavam que se poderia obter água de mananciais próximos às cidades, desde que submetida a tratamento químico.
O Sistema Cantareira, um dos primeiros a ser criado, foi concebido com a ideia de captar água pura. Suas atividades começaram no século 19 na Serra Cantareira. Depois, o Sistema Alto Cotia foi construído, com grandes desapropriações para preservar o manancial existente. O Sistema Rio Claro foi construído na Serra do Mar. A escolha desses locais foi baseada nas disponibilidades territoriais e no alto crescimento demográfico da região. A Represa Guarapiranga, gerida pela Light, também abastece a cidade, mas esta não é objeto deste relatório, apenas a Fazenda Capivari, que pertence à Sabesp.
Desde a década de 1970, houve um aumento de preocupação com a quantidade e qualidade da água, o que resultou em investimentos em conservação e preservação das áreas em torno dos reservatórios. Em novembro de 1976, foi aprovada a lei estadual de proteção dos mananciais. Atividades como reflorestamento e controle do uso do solo nas áreas circundantes são importantes para manter a qualidade da água. A Sabesp considera sua responsabilidade fundamental na preservação e recuperação dessas áreas.
Antes da formação da região metropolitana, imediações da Serra da Cantareira eram ocupadas por sítios e fazendas, onde existiam muitas nascentes de água pura armazenada e transportada em cântaros. Com a urbanização crescente, os problemas de abastecimento de água começaram a aparecer, tornando necessário estruturar um sistema de abastecimento para São Paulo.
A partir de 1890, vários terrenos na zona norte foram desapropriados para proteger as fontes de água e garantir sua captação e distribuição à população. Em 1963, a área foi proclamada Parque Estadual da Serra da Cantareira, com cerca de 8 mil hectares, e passou a fornecer água a bairros da cidade por meio de adutoras.
A necessidade de atender à crescente demanda por água levou à construção de novas tubulações a cada dois ou três anos. Reservatórios, represas e a futura estação de tratamento compuseram o Sistema Cantareira.
O Cantareira Velho funcionou até meados da década de 1970, quando ocorreu uma rápida expansão demográfica na região de São Paulo. A população saltou de 4,85 milhões em 1960 para 8,07 milhões em 1970. Na década seguinte, foram inauguradas as primeiras barragens e reservatórios do atual Sistema Cantareira, gerido pela Sabesp. Hoje, o sistema atende a uma região que inclui cidades como Bragança Paulista, Piracaia, Vargem, Joanópolis, Nazaré Paulista, Franco da Rocha, Mairiporã, Caieiras e São Paulo.
O Sistema Cantareira, localizado em uma Área de Proteção Ambiental (APA), é uma das maiores instalações produtoras de água do mundo. Com uma área total de 17,17 mil hectares, é dez vezes maior que a APA de Fernando de Noronha. Composto por represas e barragens como Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras, bem como as estações elevatórias de água bruta (EEAB) Santa Inês e a estação de tratamento de água (ETA) Guaraú, o sistema produz 48,7% da água tratada pela Sabesp e atende a mais de 8,8 milhões de pessoas na região metropolitana.
A Represa Paiva Castro, situada em Franco da Rocha e Mairiporã, foi construída como parte do Sistema Cantareira. Levou 7 anos para ser concluída, de 1966 a 1973. Ela controla o nível do Rio Juqueri e encaminha a água para a Estação Elevatória de Água Bruta (EEAB) Santa Inês e posteriormente para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú.
As Represas Jaguari e Jacareí começaram a operar em 1982, completando o Sistema Cantareira e dando origem a seu maior reservatório (correspondente a mais de 80% do volume total de água).
No início do século XX, o rápido crescimento de São Paulo tornou claro que o sistema Cantareira Velho era insuficiente para abastecer todos os bairros. O Rio Tietê foi considerado como alternativa, mas foi descartado devido aos riscos para a saúde pública. Então, os rios Claro e Cotia se tornaram as opções mais viáveis, com o último sendo o mais próximo da cidade e com menor custo de implantação de um novo sistema de abastecimento de água.
As cabeceiras do Rio Cotia foram tomadas pelo governo do estado e se tornaram a Reserva Florestal do Morro Grande. O Sistema Alto Cotia atua nesta área altamente protegida de 11,1 mil hectares, equivalente a um terço da área atual de Belo Horizonte. Executado em duas etapas, sua infraestrutura inclui a Barragem da Graça, que represou a Cachoeira da Graça em 1916 e serve apenas para captar a água da bacia hidrográfica. Em um segundo momento, em 1937, o Reservatório Pedro Beicht, com características reguladoras, passou a operar para manter o abastecimento de água nos períodos de estiagem.
O que o Sistema Rio Claro, situado no Parque Estadual da Serra do Mar na região metropolitana de São Paulo, tem em comum com o livro clássico “Os Sertões”, escrito por Euclides da Cunha? Há muitas histórias envolvendo o escritor e a região, mas a mais interessante é a que atribui a ele a sugestão de que o manancial protegido pela Mata Atlântica poderia ajudar o Cantareira a abastecer São Paulo. Euclides era não só escritor e jornalista, mas também engenheiro civil e trabalhou no final do século 19 como funcionário do Serviço de Obras Públicas do Estado de São Paulo. Diz-se que ele identificou o potencial do Rio Claro como fonte de abastecimento ao medir sua vazão em 1906.
Hoje, o Sistema Rio Claro ocupa uma área de 16 mil hectares da Sabesp, o que é equivalente a região oeste da capital, incluindo as prefeituras regionais de Butantã, Lapa e Pinheiros. No entanto, ao contrário desta área urbana, que abriga mais de um milhão de pessoas, o Rio Claro é habitat de milhares de espécies, incluindo algumas raras, da flora, fauna e fungos típicos da Mata Atlântica. O terreno é cortado por rios e córregos de água pura, com vista para o litoral norte paulista.
O Sistema Rio Claro teve suas obras iniciadas em 1926, mas enfrentou interrupções e reformulações no projeto ao longo do tempo. Demorou 15 anos para ser concluído devido às dificuldades na construção, que envolveu uma distância de mais de 70 km de São Paulo. A água é captada na Represa Ribeirão do Campo e depois tratada na Estação de Tratamento de Água (ETA) Casa Grande.
O Sistema Rio Claro é responsável por fornecer água para alguns bairros da zona leste da capital e algumas cidades vizinhas, como Mauá, Santo André e Ribeirão Pires. Na década de 1970, sua capacidade foi duplicada para atender a uma demanda crescente. Com uma capacidade de produção de aproximadamente 4 mil litros por segundo, ele é capaz de fornecer água para o consumo de uma pessoa por 31 dias em apenas um segundo.
A Fazenda Capivari, propriedade da Sabesp, também está situada na floresta da Mata Atlântica. Com uma área de apenas 262 hectares, é uma propriedade menor em comparação a outros terrenos da empresa.
Ela está localizada em uma área de proteção ambiental com o mesmo nome, na região sul de São Paulo, perto do bairro de Engenheiro Marsilac. Com suas quedas-d’água cristalinas, a área se mostrou ser uma boa opção para complementar o abastecimento feito pelo Sistema Guarapiranga.
Inicialmente, havia a intenção de construir uma infraestrutura para captação e represamento na Fazenda Capivari. No entanto, devido a questões ambientais, as duas barragens planejadas nunca foram construídas.
No meio do século 20, a Estação Elevatória Capivari começou a operar com a finalidade de gerar energia elétrica. Mas, durante uma crise de seca na década de 1970, a elevatória foi usada para ajudar no abastecimento da cidade de São Paulo. Ela bomba a água do Rio Capivari-Monos para o Reservatório Guarapiranga, onde a água é tratada.
Inseridas no ambiente da Mata Atlântica, as quatro propriedades da Sabesp apresentadas nesta lista retratam a preocupação ambiental da empresa.
O Sistema Alto Cotia é uma instalação que se encontra dentro da Reserva Florestal Morro Grande. Possui duas represas, a Pedro Beicht e a Cachoeira da Graça. A área total abrangida pelo sistema incluindo seus mananciais é de 11,1 mil hectares. Em 2017, o índice de cobertura vegetal nessa área era de 100%.
A Fazenda Capivari, que faz parte do Sistema Guarapiranga, encontra-se inserida na Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos. A propriedade possui uma área total de 262 hectares, incluindo os mananciais, e apresenta uma cobertura vegetal de 100% segundo o índice de 2017. A fazenda conta com uma represa chamada Capivari.
O Sistema Cantareira está localizado dentro de Áreas de Proteção Ambiental (APA) Cantareira e Parques Estaduais Itapetinga, Itaberaba, Juqueri e Cantareira. Ele conta com seis represas: Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras. A área total incluindo mananciais é de 17,17 mil hectares e o índice de cobertura vegetal, em 2017, foi de 75%.
O Sistema Rio Claro está localizado dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, com uma área total de 16 mil hectares, incluindo mananciais. Em 2017, o índice de cobertura vegetal era de 100%. A única obra realizada na área foi a construção da represa Ribeirão do Campo.
*Com informações da Sabesp.