A nova legislação busca incentivar o uso de combustíveis renováveis, mas traz implicações para os motoristas, especialmente aqueles com veículos mais antigos.
A Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro de 2024, trouxe mudanças importantes para a matriz energética do Brasil. A nova legislação autoriza o aumento do teor de etanol na gasolina comum para até 35%, com o objetivo de promover o uso de combustíveis renováveis e reduzir as emissões de carbono. No entanto, a medida pode gerar impactos para os motoristas, principalmente em relação ao consumo de combustível e à compatibilidade de veículos mais antigos com a nova composição.
O aumento do teor de etanol na gasolina representa um avanço na política de transição energética do Brasil. Atualmente, o etanol corresponde a uma parte considerável da matriz de biocombustíveis do país, e o Brasil é um dos maiores produtores mundiais. Com a nova lei, a mistura de etanol na gasolina poderá variar de 22% a 35%, dependendo da disponibilidade de produção e dos ajustes técnicos necessários. Essa mudança visa fortalecer a cadeia produtiva do etanol e criar empregos no setor.
Para veículos com tecnologia flex, que são capazes de rodar tanto com gasolina quanto com etanol, a nova mistura pode resultar em maior consumo de combustível. Isso ocorre porque o etanol tem um poder calorífico menor do que a gasolina, o que significa que é necessária uma quantidade maior de etanol para gerar a mesma energia. Na prática, os motoristas podem perceber uma redução na autonomia dos veículos, principalmente em viagens mais longas.
Por outro lado, para veículos que utilizam apenas gasolina, especialmente os fabricados há mais de 15 anos, o aumento do percentual de etanol na mistura pode trazer desafios técnicos. A alta concentração de etanol pode causar corrosão em componentes do motor, como borrachas de vedação, e até mesmo falhas na ignição. Em alguns casos, o uso contínuo do novo combustível pode levar à necessidade de reparos frequentes ou adaptações nos veículos. Para esses motoristas, a alternativa mais viável poderá ser o uso de gasolina premium, que tem menor teor de etanol e menos substâncias corrosivas. No entanto, essa opção é geralmente mais cara do que a gasolina comum.
A nova composição de combustíveis traz impactos que vão além das questões técnicas dos veículos. No âmbito econômico, a medida representa um impulso para a indústria do etanol, que tem grande importância na economia agrícola brasileira. A cana-de-açúcar, principal matéria-prima para a produção de etanol, gera milhões de empregos e movimenta uma cadeia produtiva que inclui desde o cultivo até a distribuição nos postos de combustíveis. O aumento da demanda por etanol pode estimular investimentos em novas usinas e tecnologias de produção.
Ambientalmente, o uso de etanol contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, já que o biocombustível emite menos CO2 em comparação à gasolina de origem fóssil. Essa característica torna o etanol uma opção importante para os esforços de descarbonização do setor de transportes, um dos maiores emissores de gases poluentes.
No entanto, há críticas sobre a viabilidade de aumentar a mistura de etanol sem causar danos aos motores. Fabricantes de veículos e especialistas em combustíveis apontam a necessidade de normas técnicas que garantam a durabilidade dos motores e evitem custos adicionais para os consumidores. Além disso, os frotistas e proprietários de veículos pesados, como caminhões, demonstram receios quanto aos efeitos do etanol sobre o desempenho e a manutenção dos veículos.
Em resposta aos possíveis desafios, o governo tem implementado ações para garantir que a transição seja gradual e que as adaptações necessárias sejam feitas. Uma das estratégias inclui o incentivo à pesquisa para desenvolver tecnologias que tornem os motores mais resistentes às novas composições de combustíveis. Também são previstos incentivos fiscais para modernização de frotas e adequação de veículos antigos.
Para os consumidores, a mudança poderá vir acompanhada de campanhas educativas sobre o uso correto do etanol e a importância das manutenções preventivas nos veículos. A iniciativa visa mitigar os impactos sobre os motoristas e promover uma transição energética mais suave.
A Lei do Combustível do Futuro representa um passo importante para a descarbonização da matriz energética brasileira, alinhando o país com os esforços globais para reduzir as emissões de carbono. No entanto, a medida traz desafios técnicos e econômicos que precisam ser gerenciados com cuidado. A adaptação dos veículos à nova composição de combustíveis, os investimentos na indústria do etanol e as ações governamentais serão determinantes para o sucesso dessa transição. Apesar das dificuldades, a lei reforça o papel do Brasil como líder na produção de biocombustíveis e contribui para um futuro mais sustentável.
Fontes: Senado, Folha, Jornal da USP e O Tempo.